Monumentos de Lisboa: estátuas de A a bronze
Falar dos monumentos de Lisboa e de todas as estátuas resultaria numa enciclopédia. Conheça pelo menos estas, da mais antiga à mais polémica
As estátuas são como aquele amigo que está sempre lá, mas com quem nunca conseguimos combinar um café. Estas estão entre os monumentos de Lisboa obrigatórios.
Monumentos de Lisboa: estátuas de A a bronze
A literária
Como dar a volta ao texto sem falar no Fernando Pessoa da Brasileira? Falando da escultura do poeta instalada desde 2008 no Largo de São Carlos, no dia em que se celebrou os 120 anos do seu nascimento. Aqui Pessoa está irreconhecível, com um livro em substituição da cabeça, obra do belga Jean-Michel Folon (1934-2005) feita primeiro para uma mostra de escultura realizada no Castelo de São Jorge em 2001. "Homage a Pessoa", com quatro metros de altura, foi adquirida pelo município e colocada mesmo em frente ao prédio onde Fernando Pessoa nasceu e viveu até aos cinco anos.
A profissional
Lotaria Clássica, da Páscoa, de Natal ou de Fim-de-Ano. A Santa Casa vende e dá os prémios e um dos locais onde pode tentar a sua sorte é no quiosque em frente à sede da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, no Largo de São Roque, que teve a iniciativa de homenagear os antigos vendedores de cautelas da lotaria, uma das figuras mais típicas de Lisboa antiga. A estátua do cauteleiro, da autoria de Fernanda Assis, foi inaugurada em 1987, tem tamanho real (de certeza que já existiu um cauteleiro com 1,78m) e inclui um boné com chapinha, um cigarro no canto da boca e um bilhete onde se lê “Homenagem da Santa Casa da Misericórdia. Lotaria Nacional. Ao cauteleiro”.
A polémica
No alto do Parque Eduardo VII mora este Monumento ao 25 de Abril de 1974, da autoria de João Cutileiro, talvez o escultor mais incompreendido da nossa praça. Este monumento foi encomendado pelo município e inaugurado a 25 de Abril de 1997. E o povo chama-lhe “O Pirilau”. Na altura o escultor lembrou que “o jacto de água do Lago de Genebra tem uma ejeculação muito maior”. Feita a partir de um pedestal que estava destinado a uma estátua do Santo Condestável, pesa 90 toneladas e a forma fálica que se destaca simboliza mesmo a força viril e o vigor da revolução de Abril.
A desportista
Era jogador do Sport Lisboa e Benfica, o que pode mitigar o interesse de alguns adeptos de outras cores. Mas Eusébio da Silva Ferreira, uma figura ímpar do desporto nacional, foi o maior marcador do Campeonato do Mundo de 1966 (em Inglaterra), ajudando a selecção nacional a alcançar um incrível, e podemos dizer glorioso, terceiro lugar na competição. Só isso já vale mais que uma visita à estátua do Pantera Negra, oferecida por um sócio do clube radicado nos EUA, Vitor Batista. Inaugurada em 1992, é da autoria do escultor americano Duker Bower. Relembramos que após a morte de Eusébio, a estátua de bronze foi inundada por cachecóis e camisolas futebolísticas em sua homenagem, levando o museu a conservá-los dentro de uma cobertura transparente que só foi retirada passado um ano.
A milagreira
Nem só em templos religiosos se faz o culto. Pelo menos em Lisboa, onde uma das estátuas costuma estar rodeada de flores ou de velas acesas. É a do Dr. Sousa Martins, um médico que se recusava a receber dinheiro quando tratava os mais desfavorecidos, o que lhe valeu a alcunha “Pai dos Pobres”. Este monumento foi erigido em 1907 no Campo Mártires da Pátria através de subscrição pública e concretizado por Costa Motta (tio, porque há o Costa Mota, sobrinho), autor de várias estátuas em Lisboa e dos túmulos de Camões e Vasco da Gama no Mosteiro dos Jerónimos.
A política
A Avenida da Liberdade é um verdadeiro festival de estátuas e bustos, do Marquês de Pombal aos Restauradores. Algumas herdadas do tempo do Passeio Público, um local de passeio aristocrata no século XIII (como as esculturas mitológicas que representam o rio Tejo e o rio Douro), outras acrescentadas com o passar dos séculos. Como é o caso da estátua de Simon Bolívar, o herói da independência sul-americana, inaugurada em 1978 e oferecida pela comunidade portuguesa radicada na Venezuela. Volta e meia são depositadas coroas de flores a seus pés, uma delas por Hugo Chávez quando visitou Lisboa em 2008.
A olímpica
Neptuno passeou-se por Lisboa antes de vir parar ao Largo Dona Estefânia em 1951. Esta estátua em mármore, da autoria de Machado de Castro, começou por decorar o antigo Chafariz do Loreto no século XVIII. Após a demolição desse chafariz, Neptuno seguiu para a Mãe de Água, depois esteve no Museu do Carmo e ainda encaixou uns tempos no Depósito de Águas dos Barbadinhos. No actual lago, Neptuno é brindado por jogos de água iluminados por projectores debaixo de água.
A veterana
O mesmo autor de Neptuno também idealizou D. José I para o Terreiro do Paço. E esta obra foi pioneira em muitas coisas: é a estátua pública mais antiga de Portugal, a primeira estátua em bronze fundida em território nacional e a primeira estátua equestre. Foi erguida sobre um pedestal de pedra vinte anos depois do terramoto de 1775, ainda o rei estava vivo. Após a inauguração houve festa durante três dias, com cortejos alegóricos, fogo de artifício, exercícios militares, ópera, baile e banquete.
A militar
A quem folheia jornais é familiar o nome do cartoonista e caricaturista Augusto Cid, cujo traço já passou por inúmeros jornais e revistas, como os antigos Diário de Lisboa e O Século, e mais recentemente o semanário Sol. Mas o artista, que frequentou o curso de Escultura das Belas Artes de Lisboa, também tem deixado o seu cunho na arte pública da cidade. Em Lisboa são da sua autoria os painéis de azulejo do Viaduto de Sete Rios e o monumento em memória do navegador Gonçalves Zarco, em Belém, freguesia que recebeu em Novembro este portento em bronze. A estátua de Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, ganhou vida graças a um projecto vencedor da edição de 2013 do Orçamento Participativo e está no Jardim Ducla Soares.
A desaparecida
Oh triste fado. O rei desejado, o que nos vem salvar numa manhã de nevoeiro, desapareceu uma segunda vez, mas à luz do dia e à frente de boquiabertos transeuntes. Em Maio, um turista escalou o edifício para tirar uma selfie com a estátua de D. Sebastião na fachada da Estação do Rossio e o regicídio aconteceu: o rei partiu-se no chão aos bocadinhos, desamparado. Se estiver mesmo com muitas saudades, no Museu do Chiado encontra uma escultura em mármore que com esta partilha algumas semelhanças e na Sala Museu do Instituto Oftalmológico Gama Pinto existe uma estátua que terá servido de molde para o El Rei D. Sebastião do Rossio.
A LGBT+
Inaugurado em Junho de 2017 no dia da Marcha de Orgulho LGBT, é um monumento de homenagem às vítimas de homofobia, que teve como mentor António Serzedelo, presidente da Opus Gay. Da autoria do artista plástico Rui Pereira, a estátua em betão armado, cimento e ferro apresenta duas figuras. De um lado um homem e do outro lado uma mulher, ambos dentro de um armário. Se já passou por lá e ficou irritado com pessoas a usar a estátua como banco, respire fundo. É o próprio António Serzedelo que convida todos a sentarem-se na estátua.
A familiar
Desde logo fica a saber que Lisboa também tem direito às suas francesinhas. Jardim das Francesinhas, neste caso, ali pela Estrela. É aqui que vive uma escultura em mármore de 1947, da autoria de Leopoldo de Almeida, que se ergue ali ao lado do Palácio de São Bento. A peça intitula-se “A Família” e representa uma criança ao colo entre a figura de um homem e de uma mulher.
Fonte: https://www.timeout.pt/lisboa/pt/arte/monumentos-de-lisboa-dez-estatuas-de-a-a-bronze